sábado, 30 de janeiro de 2010

Déficit habitacional sem fim


Dia 26 de janeiro Santos fez aniversário. Com 464 anos, o município está longe de ser um lugar perfeito, como acham muitos de seus filhos. Considerada a “capital” da Baixada Santista, Santos (ou o Reino, como costumo me referir à cidade com ironia) ainda tem muitos problemas sociais a resolver. O déficit habitacional, por exemplo, mostrado em reportagem minha e da repórter-fotográfica Nirley Sena (é só clicar a imagem acima para ler), é um deles.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Entra ano, sai ano, e ninguém faz a lição de casa


Ironia
Cascadura. Quanta ironia no nome do lugar onde a pequena Mariana Veras dos Passos, de 3 anos, morava. A casa da família da menina, no bairro da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, desabou em decorrência das chuvas que atingiram a cidade no dia 31 de dezembro. O pai e a mãe da garota morreram, mas ela, depois do esforço dos bombeiros num resgate que durou seis horas, foi retirada dos escombros com vida. Infelizmente, no dia seguinte, Mariana não resistiu aos ferimentos e morreu. No final a casca (a casa) que deveria proteger seus moradores não era tão dura assim.


A imagem da menina sendo resgatada, registrada pela Rede Globo, é uma das mais emocionantes dos últimos dias. Desde que começou a chover, 76 pessoas (até as 22 horas do dia 2 de janeiro) já morreram em três estados brasileiros: Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Este último com o maior número de casos, resultado principalmente dos deslizamentos de terra no sul do estado. Somente em Angra dos Reis foram resgatados 41 corpos até agora.


Águas claras
Paraitinga, em tupi-guarani significa águas claras. E foi justamente o banho de águas do rio que leva esse nome que acabou apagando parte do passado da cidade de São Luiz do Paraitinga, na região do Vale do Paraíba. A chuva fez o nível do rio Paraitinga subir mais de dez metros, inundando tudo. Agora, o Município do Estado de São Paulo com a maior quantidade de casarões históricos tombados pelo patrimônio, está praticamente coberto pelas águas claras.


O resultado da destruição foi confirmado neste sábado, quando um dos principais cartões postais do município, a igreja de São Luis de Tolosa, construída no século 19, ruiu. A imagem flagrada pela Band é também uma das mais comoventes deste início de ano.


Lazareto
Não é de hoje que a Ilha Grande, no sul do Estado do Rio de Janeiro, encanta os olhos de seus visitantes. Nem mesmo D. Pedro II quando visitou o local, em 1863, resistiu a tanto encantamento. Tanto que adquiriu a Fazenda do Holandês (hoje, Vila do Abraão) e a de Dois Rios.

Curiosamente o local que abrigou durante anos (no século 19) o Lazareto, que serviu de centro de triagem e quarentena para os passageiros enfermos que chegavam ao Brasil (mais especificamente nos casos de cólera), e que nesta semana se transformou em palco da maior quantidade de vítimas fatais (28, até as 22 horas deste sábado) dessa tragédia provocada pelas chuvas, hoje não tem sequer um hospital. A Ilha Grande conta apenas com atendimento médico prestado em um posto de saúde. Casos mais graves têm que ser encaminhados para o hospital de Angra dos Reis.

Mais curioso ainda é saber que o fato de não ter hospital fez alguns turistas desistirem da viagem de Réveillon que haviam programado para Ilha Grande.


Aprendemos?
Impossível não lembrar da tragédia de Santa Catarina, Estado que em novembro de 2008 perdeu 126 vidas, vítimas de deslizamentos e inundações provocados pela chuva. Pior: concluir que pouco mais de um ano depois não aprendemos nada com essa lição.


Mais difícil ainda é não pensar na Baixada Santista e não comparar as situações. A região tem milhares de habitações construídas em áreas de risco ao longo da Serra do Mar e que podem despencar a qualquer momento ou ficar soterradas, dependendo da intensidade das chuvas.

O problema é justamente este: a ocupação desordenada é sempre chancelada pelo Poder Público. Seja porque autorizou a construção de condomínios luxuosos e mansões em áreas de Mata Atlântica ao longo do litoral de São Paulo, seja porque não impediu as invasões pela população de baixa renda de regiões, como por exemplo, a ocupada pelos bairros Cota, em Cubatão.

No entanto, quando acontece uma tragédia dessa proporção o mesmo Poder Público age como se não tivesse nenhuma culpa, afinal sobre a natureza em fúria ninguém tem controle, certo? Errado. É justamente a mão do homem que está provocando esse comportamento da natureza.

Mas se um governo não consegue sequer proteger uma serra, como exigir que líderes mundiais gananciosos se comprometam num acordo formal a abrir mão de riqueza na tentativa de diminuir a emissão de gases de efeito estufa, freando o aquecimento global do planeta, e diminuindo fenômenos naturais como esses que destroem famílias inteiras?

Enquanto conferências do clima como a de Copenhague fracassarem sempre, tragédias como a de Angra dos Reis, que alimentaram a mídia (gananciosa pela desgraça alheia) continuarão existindo.