segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O vai e vem do mar

O Fantástico deu hoje uma matéria (vídeo abaixo) mostrando como o avanço e o recuo do mar estão mudando o mapa do litoral brasileiro. Sou suspeita para falar, já que eu adoro o tema, mas o resultado da reportagem ficou bem interessante. Primeiro porque a equipe percorreu toda a costa brasileira para mostrar exemplos reais. Um deles, na Ilha do Cardoso, que eu já fiz matéria (é só ver aqui). Depois porque não se limitou a falar de aquecimento global e da culpa do homem nesse processo.


É claro que temos culpa sobre quase tudo que está acontecendo. Mas não dá para esquecer a mão da natureza. Neste ponto, achei a matéria coerente porque deixou claro que as praias são ambientes absolutamente dinâmicos. O avanço e o recuo do mar simplesmente acontecem. Mas é inegável que ocupamos áreas que não deveríamos e que aceleramos as coisas.


A matéria (não apenas o conteúdo, mas também o tom dela) me lembrou algo que aconteceu em Santos há cerca de duas semanas. Uma ressaca causou estragos na orla e carregou muita areia da Ponta da Praia para o Canal 2. Até aí nenhuma novidade. Tudo bem que o Canal 2 ficou completamente assoreado. Desapareceu. Mas, sempre que há ressacas mais fortes muita areia é retirada da Ponta da Praia. Além disso, areia se movendo sentido São Vicente é o natural. Ela sempre fez esse movimento.


No entanto, como atualmente o canal está sendo dragado para aumentar a capacidade do Porto de Santos, ficou a dúvida sobre até que ponto essa ação não seria culpada pelo estrago. E se não seria o caso de a Codesp pagar a conta do prejuízo.


Ora, não sejamos hipócritas. Há décadas a Ponta da Praia está “emagrecendo”. No entanto, é claro que devemos ficar atentos a influência da dragagem nesse processo. Cavar o fundo do canal pode não apenas acelerar a erosão na Ponta da Praia, em Santos, e no Góes, em Guarujá, como também gerar outros inúmeros prejuízos. Tanto que uma das exigências do Ibama no licenciamento da dragagem foi o monitoramento dos possíveis efeitos desse processo nas praias.


Mas, muito mais grave que essa questão levantada somente agora, na minha opinião, foi precisarmos de uma ressaca tão forte para que, finalmente, pudéssemos ter acesso a algo deveria ser desde sempre público.


Foi apenas depois dos estragos da ressaca, durante uma reunião entre as prefeituras de Santos, Guarujá e a Codesp que um acordo foi firmado neste sentido. Pelo visto, se não houvesse um evento dessa proporção não existiria esse compromisso. Agora, finalmente a estatal se comprometeu a entregar às secretarias de Meio Ambiente das duas cidades relatórios semestrais e informativos mensais sobre a dragagem e o perfil das praias da região.


Só lembrando de um detalhe: o dinheiro que está pagando esse monitoramento é público, assim como o Porto. Então se esse dinheiro é seu, é meu, é de todos nós, é meio óbvio que tenhamos o direito de saber o que está acontecendo.