segunda-feira, 25 de abril de 2011

Análise

"Tão abstrata é a idéia do teu ser / Que me vem de te olhar, que, ao entreter / Os meus olhos nos teus, perco-os de vista, / E nada fica em meu olhar, e dista / Teu corpo do meu ver tão longemente, / E a idéia do teu ser fica tão rente / Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me / Sabendo que tu és, que, só por ter-me / Consciente de ti, nem a mim sinto. / E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto / A ilusão da sensação, e sonho, / Não te vendo, nem vendo, nem sabendo / Que te vejo, ou sequer que sou, risonho / Do interior crepúsculo tristonho / Em que sinto que sonho o que me sinto sendo".
(Fernando Pessoa) 


(Foto: Ribeirão Preto/SP)