






O Fantástico deu hoje uma matéria (vídeo abaixo) mostrando como o avanço e o recuo do mar estão mudando o mapa do litoral brasileiro. Sou suspeita para falar, já que eu adoro o tema, mas o resultado da reportagem ficou bem interessante. Primeiro porque a equipe percorreu toda a costa brasileira para mostrar exemplos reais. Um deles, na Ilha do Cardoso, que eu já fiz matéria (é só ver aqui). Depois porque não se limitou a falar de aquecimento global e da culpa do homem nesse processo.
É claro que temos culpa sobre quase tudo que está acontecendo. Mas não dá para esquecer a mão da natureza. Neste ponto, achei a matéria coerente porque deixou claro que as praias são ambientes absolutamente dinâmicos. O avanço e o recuo do mar simplesmente acontecem. Mas é inegável que ocupamos áreas que não deveríamos e que aceleramos as coisas.
A matéria (não apenas o conteúdo, mas também o tom dela) me lembrou algo que aconteceu em Santos há cerca de duas semanas. Uma ressaca causou estragos na orla e carregou muita areia da Ponta da Praia para o Canal 2. Até aí nenhuma novidade. Tudo bem que o Canal 2 ficou completamente assoreado. Desapareceu. Mas, sempre que há ressacas mais fortes muita areia é retirada da Ponta da Praia. Além disso, areia se movendo sentido São Vicente é o natural. Ela sempre fez esse movimento.
No entanto, como atualmente o canal está sendo dragado para aumentar a capacidade do Porto de Santos, ficou a dúvida sobre até que ponto essa ação não seria culpada pelo estrago. E se não seria o caso de a Codesp pagar a conta do prejuízo.
Ora, não sejamos hipócritas. Há décadas a Ponta da Praia está “emagrecendo”. No entanto, é claro que devemos ficar atentos a influência da dragagem nesse processo. Cavar o fundo do canal pode não apenas acelerar a erosão na Ponta da Praia, em Santos, e no Góes, em Guarujá, como também gerar outros inúmeros prejuízos. Tanto que uma das exigências do Ibama no licenciamento da dragagem foi o monitoramento dos possíveis efeitos desse processo nas praias.
Mas, muito mais grave que essa questão levantada somente agora, na minha opinião, foi precisarmos de uma ressaca tão forte para que, finalmente, pudéssemos ter acesso a algo deveria ser desde sempre público.
Foi apenas depois dos estragos da ressaca, durante uma reunião entre as prefeituras de Santos, Guarujá e a Codesp que um acordo foi firmado neste sentido. Pelo visto, se não houvesse um evento dessa proporção não existiria esse compromisso. Agora, finalmente a estatal se comprometeu a entregar às secretarias de Meio Ambiente das duas cidades relatórios semestrais e informativos mensais sobre a dragagem e o perfil das praias da região.
Só lembrando de um detalhe: o dinheiro que está pagando esse monitoramento é público, assim como o Porto. Então se esse dinheiro é seu, é meu, é de todos nós, é meio óbvio que tenhamos o direito de saber o que está acontecendo.
Foram esses ingredientes que me levaram a experimentar emoções distintas sobre um mesmo tema em um curto espaço de tempo. Fui da alegria à tristeza. E faço questão de registrar meus sentimentos aqui justamente por se tratar de uma de minhas paixões: o mar.
Tive oportunidade de conhecer de perto o trabalho de um pessoal que passei a admirar ainda mais. A dedicação dos profissionais para salvar animais marinhos é antes de tudo inspiradora. Estou falando do Grupo de Resgate e Reabilitação de Animais Marinhos (Gremar), formado por veterinários, biólogos, oceanógrafos, estudantes e voluntários.Lazareto
Não é de hoje que a Ilha Grande, no sul do Estado do Rio de Janeiro, encanta os olhos de seus visitantes. Nem mesmo D. Pedro II quando visitou o local, em 1863, resistiu a tanto encantamento. Tanto que adquiriu a Fazenda do Holandês (hoje, Vila do Abraão) e a de Dois Rios.
Curiosamente o local que abrigou durante anos (no século 19) o Lazareto, que serviu de centro de triagem e quarentena para os passageiros enfermos que chegavam ao Brasil (mais especificamente nos casos de cólera), e que nesta semana se transformou em palco da maior quantidade de vítimas fatais (28, até as 22 horas deste sábado) dessa tragédia provocada pelas chuvas, hoje não tem sequer um hospital. A Ilha Grande conta apenas com atendimento médico prestado em um posto de saúde. Casos mais graves têm que ser encaminhados para o hospital de Angra dos Reis.
Mais curioso ainda é saber que o fato de não ter hospital fez alguns turistas desistirem da viagem de Réveillon que haviam programado para Ilha Grande.